domingo, 12 de junho de 2016

Escrita espelhada, o que fazer?



    Quando as crianças iniciam a escrever suas primeiras palavras ou números, a sensação
 dos pais é indescritível. É um processo de autonomia, um ritual de passagem evidenciando 
uma nova etapa na vida da criança... É uma gracinha ver aquelas mãos tão delicadas 
iniciando seus traçados...
    Ao compor suas primeiras escritas elas mostram-se portadoras de inúmeras 
experiências, desejos, anseios e dinâmicas particulares de aprendizado. Vygotsky (1998) 
destaca que a escrita tem significado para as crianças, desperta nelas uma necessidade 
intrínseca e uma tarefa necessária e relevante para a vida.
      Entretanto, na medida em que esta escrita avança é comum que elas evidenciem 
letras ou números espelhados...algumas já estão lá por volta dos 7 anos e ainda mantém
 esta característica e por que será que fazem isso?

     Em primeiro lugar é importante ressaltar que espelhar letras e números é normal, pois a 
criança está em processo de construção da escrita. Para que ela tenha o entendimento, 
que nós adultos temos que a escrita inicia da esquerda para a direita (no caso da cultura
 ocidental), algumas noções anteriores ao papel devem ser bem trabalhadas. A aquisição
 da escrita é posterior à aquisição da linguagem e posterior a um nível específico de 
maturidade motora humana.
     Conforme Esteban Levin (2002: 161), o ato da escrita em si, não depende somente do 
ato biológico, mas de toda uma estrutura que provém do sistema nervoso central,
[...] o que escreve é um sujeito-criança, mas, para fazê-lo, necessita 
de sua mão, de sua orientação espacial (lateralidade), de um ritmo
 motor (relaxamento-contração), de sua postura (eixo postural), de
 sua tonicidade muscular (preensão fina e precisa) e de seu 
reconhecimento no referido ato (função imaginária).
     Conforme manual de neurologia infantil, autoria de Diament (2005), a partir dos 7 anos 
que a criança começa a consolidar a noção de direita e esquerda, bem como encontra-se 
em fase de maturação de áreas 
visoespaciais, portanto é perfeitamente normal ainda apresentar algumas trocas  na 
direção de suas escrita, pois estão em processo de aprendizagem, sistematizando suas 
hipóteses e consolidando noções importantes em aspectos neurobiológicos, porém,
 alguns alunos espelham palavras e frases inteiras, característica da disgrafia. No entanto,
 isso não significa que as crianças que espelham letras e números apresentem 
disgrafia, mas se no final deste ano, após todas as intervenções pedagógicas terem
 sido realizadas, visando a “escrita correta” das palavras, faz-se necessário uma avaliação
 mais detalhada.
       Dehaene (2012) nos mostra que a capacidade de reconhecer as figuras simétricas faz
 parte das competências essenciais do sistema visual, porque permite o reconhecimento 
dos objetos independentemente da sua orientação, por esse motivo  que quando uma 
criança aprende a ler tem que “desaprender” a generalização em espelho para que possa 
compreender a diferença entre as letras “b” e “d”.  A maioria das crianças passa por
 uma fase de escrita em espelho tendo geralmente ultrapassada esta dificuldade por 
volta dos 8 anos. Entretanto, cabe ressaltar que algumas das crianças que apresentam 
escrita espelhada são canhotas.
      A identificação de uma imagem na sua forma simétrica, confusão esquerda-direita, 
também é frequente, no nosso sistema visual (Dehaene 2007).
       No entanto, na sala de aula existem professores que consideram "errado" quando os
 alunos escrevem palavras ou números espelhados, por isso se faz necessário esclarecer que 
antes de considerar certo ou errado, faz-se necessário realizar atividades que propiciem a
 lateralidade. Com certeza, no processo de alfabetização, tanto pais, quanto professores, 
devem sempre questionar a criança sobre como poderia melhorar aquilo que fez, procurar
 fazê-la tomar conhecimento do que fez e como o fez, mas também como deveria fazê-lo. 
        Numa abordagem neurocientífica Guaresi (2009) enfatiza que:
A criança tem que manipular um repertório de  habilidades motoras
 finas e complexas concomitantes com dados sensoriais (conteúdo
 visual),  um processo que envolve muitas funções cerebrais,
 tais como atenção, memória, percepção  (integração e interpretação
 de dados sensoriais), entre outras. O processo de aprendizagem da 
 escrita envolve, entre outros aspectos, a integração viso-espacial,
 ou seja, visualizar o que está  sendo apresentado, localizar o lápis,
 acomodá-lo de forma satisfatória na mão, direcioná-lo ao  caderno
 e iniciar a sequência de movimentos numa tentativa de escrita. Com o
 tempo e o reforço das redes sinápticas correspondentes, este
 processo será automático, ou seja, não  precisará de monitoramento
 cerebral constante para execução da tarefa e a criança terá  condições
 de aumentar o nível de complexidade.

       Existem três domínios principais que precisam ser ensinados para que uma pessoa
 tenha autonomia no ato de escrever: o domínio linguístico, o domínio gráfico e o de 
conceitos de letra e texto. A escrita  como um sistema organizado manifesta nossa 
capacidade de simbolizar.  É complexo e sua aquisição demanda o domínio das várias
 dimensões que o compõe, por exemplo, além da segmentação, as crianças precisam
 adquirir no domínio gráfico, noções de esquerda para a direita, de cima para baixo.
          Portanto, a neuropsicopedagogia não lida apenas e diretamente com o problema
 de aprendizagem, mas com todos os processos metacognitivos que fazem com o ser
 humano venha a ter melhores condições de aprendizagem. Nesse sentido é importante
 lembrar que os alfabetos expostos em sala de aula, não deveriam ser em E.V.A, pois na 
maioria das vezes, apresentam somente a letra script maiúscula, sendo que no mundo 
letrado, não é somente este tipo de escrita que a criança encontra, muito menos 
deveriam conter formas de “bichinhos, bonequinhos”, pois isto também acarreta em 
confusão para aquela que se encontra em processo inicial do traçado das letras. Ela precisa
 visualizar a estética correta da escrita, e se possível que neste alfabeto seja sinalizado por
 setas indicando por onde começar esta escrita. A mesma sugestão é válida para o
 traçado de números. No entanto, antes de sistematizar a escrita “no papel”, diversas outra atividades envolvendo o corpo devem estar bem desenvolvidas, pois tudo que sentimos através do nosso corpo, torna-se mais
 significativo e é nesse sentido que seguem algumas sugestões de atividades:

Jogo de orientação espacial:
          
Dependendo da idade da criança, pode-se colocar uma fita no braço, ou perna sinalizando 
o lado direito (ou esquerdo). Coloca-se no chão algo delimitando o espaço, por exemplo 3
 colchonetes. A criança fica posicionada no colchonete do meio, e o professor diz: 
direita (ele deve passar para o colchonete correspondente), esquerda ou meio. Também,
 após terem dominado estas noções,  pode ser colocado outros 3 colchonetes na frente 
da criança, sendo que outra participe da atividade, demonstrando que ao se posicionarem
 uma frente a outra, o ato de pular para a direita de uma, irá mostrar-se diferente do ato 
de pular para a direita de outra.


Atividades com balão:
Tentar manter o balão no ar, somente batendo nele com a mão direita, após somente com
 a mão esquerda.


Brincar de Robô:
Uma criança é o robô, e seu parceiro é o guia. Auxiliados pela professora, combinam sinais
 de movimentação do robô. Por exemplo, se o guia tocar o lado esquerdo da cabeça do robô
, esse vira para a esquerda; se tocar o lado direito, vira à direita; se tocar o alto da cabeça, 
o robô abaixa, e assim por diante. Algum tempo depois, invertem-se os papéis, sendo 
que o guia vira robô, e o robô vira guia. Depois disso, a brincadeira é feita com 
deslocamentos. As duplas combinam os sinais de movimentação. Por exemplo, um toque 
na parte de trás da cabeça é sinal para o robô ir adiante; um toque nos ombros é sinal para
 que ele pare.

Brincar de espelho:
Inicialmente cada aluno faz as atividades sozinhos, ou seja, a professora diz, mostrar a 
mão direta, colocar o pé esquerdo ao lado da cadeira, colocar a mão esquerda no olho 
esquerdo, encostado no cotovelo direito  no joelho direito, e ir dizendo várias situações. Mas
 para brincar de espelho, cada um ficará de frente a um colega e deverá seguir as
 instruções dadas pela professora, porém localizando no outro.

Que letra é essa?
Nas costas do aluno o professor faz com o dedo uma letra e o mesmo deve dizer qual é.

Caminhar sobre as letras:
No chão, fazer o traçado de letras ou palavras e os alunos devem caminhar sobre as 
mesmas, seguindo a ordem que o traçado deve ser feito. 

Escrita com água:
Os alunos podem molhar o dedo na água e vir ao quadro passar o dedo sobre o traçado 
das palavras.

Escrita na areia:
No chão, escrever com o dedo, ou palito de picolé, o traçado de palavras.

Modelagem de palavras:
Usando argila ou massa de modelar, escrever palavras modelando letra por letra.


FONTE:http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/04/escrita-espelhada
-o-que-fazer.html?spref=fb&m=1